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quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Carta ao Povo Coxinense

A natureza é sábia e de vez em quando dá seus avisos à imbecilidade do homem. Me sinto triste e enraivecido, pois o maior símbolo da cidade de Coxim desmoronou, mas no entanto isto era bastante previsível, pois as suas feridas tiveram início muito tempo antes, mais precisamente na madrugada do dia 23 de maio de 1989, quando Zacarias do Santos Mourão, seu admirador-mór, foi misteriosamente assassinado. A partir daí começaram a surgir cicatrizes, mágoas e lágrimas incessantes, eternas como suas poesias, pois o menino Tió havia repousado eternamente, mas não como quis no seu juramente a virgem Maria, mas sim como quiseram as autoridades da época.

Garanto que neste 23 de maio o corte foi bem maior e não só atingiu ao Pé de Cedro, como dilacerou a alma e machucou o coração de milhares de coxinenses. Quantas vezes tivemos conterrâneos de nascimento e de coração (Célia Mourão, Otair da Cruz Bandeira, Viriato Bandeira, Geraldo Mochi, Lígia Mourão, Irmãs Galvão, Dr. Gaspar Manso Perez, José Branco, Fernando H. Fontoura, entre outros), que se dirigiram as autoridades políticas para reinvidicar essa prece tão sagrada do mais apaixonado dos coxinenses e obtiveram como resposta, logicamente não nessas palavras, mas em outras mais suaveis, de que aquela praça e aquele traslado de corpo não era prioridade. Devemos considerar o não cumprimento dessa prece o maior dos ferimentos do nosso
frondoso Pé de Cedro.

A ingratidão é uma prática abominável, mas comum a todos os homens. Certamente a Coxim dos homens (e não a Coxim da Natureza, do Criador) foi diversas vezes ingrata ao menino Tió e isto é refletido nas suas composições de amor platônico e mal correspondido, dentre elas a extraordinária "Voltei Amor", que era para se chamar Voltei Coxim:

"Eu voltei de mim só por um momento
Mas voltei enfim para o meu tormento
Você sempre esteve em meu pensamento
Mas você é hoje o meu sofrimento

Vim arrependido do meu passado
Vim purificado do meu pecado
Você nem me viu, olhou pra outro lado
Ah, como chorei por eu ter voltado

Eu voltei amor para crer na vida
Para ver a flor na manhã querida
Mas você seguiu de cabeça erguida
Como um gesto amigo de uma despedida

Por isso eu te fiz mais esta canção
Pedindo a migalha deste teu perdão
Mas se me negares tua aprovação
Restará meu verso de recordação"

Não sei a verdadeira situação da saúde do Pé de Cedro e rezo para que esta catástrofe climática que o vitimou não seja culpada pela sua morte, mas que sirva como um susto para que nós deixemos a ingratidão de lado e valorizemos mais este e outros símbolos (Rio Taquary) da nossa história. Nossa Coxim é muito bela, só precisamos aprender a viver harmoniosamente com as belezas que ela nos proporciona, pois "viver é um dom da Natureza, mas viver bem é um dom da sabedoria". O homem pensa ser capaz de tudo, mas só assim se torna quando deixa um legado, uma história. Zacarias Mourão é imortal porque se deixou imortalizar escrevendo poesias; grandes feitos são imortais porque toda causa leva a uma conseqüência que perdura pela eternidade. O Pé de Cedro nasceu mortal, mas morrerá imortalizado pelas poesias da pena de Zacarias Mourão.

Com uma saudade nostálgica,
Fernando Henrique Fontoura

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