Chamame




quarta-feira, 26 de julho de 2006

Tarragó Ros

Tarragó Ros "Na cidade de Curuzú Cuatiá, Província de Corrientes, aos vinte e dois dias do mês de junho do ano mil novecentos e vinte três, perante a mim, Chefe do Registro Civil, Antonio Ros, de trinta e seis anos, espanhol, solteiro, domiciliado nesta cidade, declarou: que no dia dezenove do corrente, a uma hora em seu domicílio nasceu o menino Tarragó, cor branca, filho natural do declarante e de Florinda Reina, de vinte anos, argentina, solteira, domiciliada nesta cidade, filha de Eustaquio Reina."

Assim diz a certidão de nascimento de Tarragó Ros, - que anos depois se tornaria muito popular, apelidado de "El Rey del Chamamé".

Um documento seguinte citaria o casamento dos pais, e também o de nascimento - em 1918 - Os primeiros anos de Tarragó giraram em torno da barraca de couros de sua família, uma espécie de porta aberta ao mundo. Ali conheceu peões, gauchos obscuros com enormes sombreros e também músicos de emoção intensa.

Aos quinze anos já integrava conjuntos com seu irmão e alguns amigos, e aos dezessete, já decidido pelo chamamé, empreendeu suas primeiras viagens. Com dois ou três músicos subiam em trens, e ganhavam dinheiro tocando para os passageiros, e numas destas aventuras chegaram a Buenos Aires. Porém, a maior parte de seu trabalho estaria em Corrientes, nos arredores de Curuzú.

Já neste período, Tarragó sentia que sua paixão pela música estava atravessada por algo mais que apenas uma aventura pessoal. E dando difusão a essa consciência cultural, em 15 de julho de 1943 apareceu na primeira edição do 'Brisas Correntinas', editado e dirigido por ele mesmo.

A publicação incluía um editorial, letras de canções, uma coluna humorística, e alguns versos dedicados a Tarragó por seu amigo Luis Torres, além de anúncios de programas de rádio e baile. Neste mesmo ano viajou a Buenos Aires integrando o Trío Taragüí, dirigido por Pedro Sánchez.

Primeiro foram os músicos que escutava em sua infância em Curuzú, depois as histórias de jovens talentos descubertos em lugares remotos, lidas em " El Alma que Canta", ou assistida nos cinemas. Já em Buenos Aires, outra visão alimentou seus sonhos adolescentes de ídolo popular: a imagem de Ramón Estigarribia, músico apelidado de Yaguareté, comendo com deleite, feliz e rodeado de amigos em um restaurante no centro.

Nesta época foi acordeonista de Mauricio Valenzuela, de quem anos mais tarde ficaria agradecido por seus ensinamentos profissionais. Também tocou com Mario Millán Medina, Isaco Abitbol, Ernesto Montiel, Pedro Mendoza e Luis Acosta, estes foram outros dos amigos que estiveram próximos a sua curta passagem por Buenos Aires. Em 1944 retornou a Corrientes, a frente de um elenco chamado "Melodías Guaraníes"- compartindo alguns momentos com o celebrado bandoneonista Oreste Hernández - realizou inumeras atuações no litoral argentino e no Brasil, além de apresentar-se na 'Radio Prieto', 'Radio Callao' e 'La Voz del Aire'.

Em 1945 aceitou substituir Tránsito Cocomarola no conjunto de Emilio Chamorro. Atuou ali quase tres años, durante os quais amadureceu como instrumentista e compositor, porém - antes de mais nada - foi definindo um estilo próprio, que adicionado a sua forte personalidade, logo resultaria em uma carreira como diretor.

Em 1947, de sua união com Elia Crispina Molina naceu Antonio. Este mesmo ano decidiu voltar a ser independente profissionalmente, e para isso se radicou definitivamente em Rosario, nas portas do litoral e próximo de Buenos Aires.

Iniciou seus primeiros grupos, fez suas primeiras atuações, na 'La Ranchada', um local de propiedade de Emilio Chamorro; e no 'Club Huracán' de Entre Ríos, no Centro Correntino de Rosario. Foi neste local, em 1948, que incorporou Carlos Olmedo em seu grupo, que seria seu cantor até o final, além de animador e amigo fiel. O conjunto se completava com Felipe Lugo Fernández, Rómulo Velázquez, Adriana Selva, Edgar Estigarribia e Alonso, este de sobrenome perdido na memória.

O começo não foi fácil. As apresentações mais frequentes eram nas festas organizadas pelo efetivo do porto, e também nos bailes montados por ele mesmo Tarragó, onde seu conjunto atuava com uma orquesta de tango e outra de jazz. A sorte não era muito favorável nesta ocasião. Porém, naquela altura o músico se sentia já dono de seu ofício e sua decisão de persistir era cada vez mais forte.

E assim trabalhou até 1954 quando realizou sua primeira gravação. Acompanhado por Antonio Niz e Felipe Lugo Fernández, deu uma prova a Odeón, onde impactou por seu estilo forte e irresistivelmente dançante. Gravou um disco de 78rpm com El Toro e Don Gualberto. Sua repercusão foi excelente, e no ano seguinte voltou a gravar, e a partir daí começa sua ascenção.

Nos anos 60 já era um dos músicos mais populares de toda sua região e um dos maiores vendedores de discos da Argentina, e sendo disputado por selos discográficos. Em 1946 passou de 1 milhão de cópias vendidas e foi premiado com seu primeiro disco de ouro. Mais adiante receberia outro, e um de platina e o afamado "Templo de Oro" que a gravadora oferecia somente a suas grandes estrelas históricas.

Os sucessivos discos de longa duração, as rádios e suas frequentes apresentações televisivas afiançaram sua popularidade, quando já começava a ser chamado de 'El Rey del Chamamé'. Na intimidade de sua casa de Rosario, podia ser visto junto a Angelita Lescano, sua companheira dos últimos dezesseis anos, conversando com e escutando chamamés na rádio.

Chegou a compor quase duzentos temas: El Desconsolado, Por que te fuiste, El Prisionero, Madrecita, A Curuzú Cuatiá, Caña con ruda, o El Afligido, Escuelita de mi Ayer, são alguns dos mais conhecidos, gravou vinte discos larga duração e influenciou a toda uma generação de intérpretes do chamamé. Em um sábado, 15 de abril de 1978 foi vítima de uma parada cardíaca. Seu desejo era deixar seus restos em Curuzú Cuatiá - e até lá foram levados.

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