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segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Os bailes de Ponta Porã

Por Marcelino Nunes de Oliveira

Os bailes de campanha, nas fazendas e até mesmo na cidade, como o do Club Social Amambay, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, fizeram história na fronteira. Os tradicionais bailes carapé (pequenos) chegavam a durar até dois dias seguidos no mesmo local, exemplo dos que aconteciam na Fazenda Campanário.

Onde havia grandes plantações de erva-mate ou ajuntamento de carretas, a diversão era as bailantas de final de semana. Estas festas foram tão importantes na formação da cultura da região e na história de Ponta Porã, que acabaram imortalizadas por expoentes da nossa música sertaneja.

Um exemplo é a música “Baile em Ponta Porã”, gravada pela dupla Tonico e Tinoco, que percorreu os quatro cantos do Brasil e do Paraguai levando a mensagem de alegria e descontração de uma Ponta Porã dos áureos tempos dos bons bailes de galpão e churrasqueadas típicas da fronteira. Foi inclusive regravada por grupos do Estado.

Os churrascos eram sempre acompanhados de mandioca (aipim, para os paulistas), não faltando a “caña” (cachaça) fabricada no Paraguai. Apesar do tempo, a tradição dos bailes com polcas e chamamés ainda é cultivada e sua história contada de pai para filho nas fazendas ou na cidade, de preferência ao som dos “Los Tammys”.

Um dos expoentes que registraram esses bailes foi o saudoso compositor Raul Torres, nascido em Botucatu (SP). No mês que vem ele estaria completando 95 anos. Raul Torres deixou uma das mais férteis obras da música caipira de raiz.

Vocês se lembram das músicas “Mula Preta”, “Cabocla Tereza”, “Boiada Cuiabana”? É melodia boa que não acaba mais. Raul Torres, pioneiro da música caipira, possui uma extensa discografia, com quase 400 gravações em 78 rotações.

Dotado de um espírito alegre, o compositor foi coroado como o maior patrimônio da música sertaneja. Como dupla, Raul Torres e Florêncio se tornaram à partir de 1942 ídolos da música caipira. Tonico e Tinoco se espelharam na dupla no início da carreira.

Formou ao lado de João Pacífico uma das maiores duplas de compositores que já existiram no gênero sertanejo. Em 1970 Tonico e Tinoco lançaram um LP intitulado “Recordando Raul Torres”, em homenagem a esse grande ídolo.

Conseguiram autorização para gravar as músicas, entre elas, “Mula Preta”, “Pingo D´água”, “Boi Amarelinho”, “Chico Mulato” (Raul Torres/João Pacífico) e “Cavalo Zaino”. Infelizmente, Raul Torres não chegou a ouvir as gravações. Faleceu dois meses antes.

O disco “Laço de Amizade”, lançado por Tonico e Tinoco em 1971, trouxe também pérolas como “Chalana” (Mário Zan/Arlindo Pinto) e vários outros sucessos em homenagem ao antigo Mato Grosso e ao Paraguai. A belíssima letra de “Baile em Ponta Porã” eternizou a inspiração de Raul Torres.

BAILE EM PONTA PORÃ

Como é bonito o romper na manhã,
Um fim de baile em Ponta Porã.
As paraguaias atravessam a fronteira
Prá vir dançar em terras brasileiras.

Quanta saudade eu tenho de lá
Ponta Porã eu quero voltar
Quero comer um churrasco e aipim
Beber da caña o gostoso piqui.

De Bela Vista, de Juan Caballero
Vem muita gente pro baile fronteiro
Gosto de um par bem combinado
Dançando certo o gostoso rasqueado.

Coisa bonita que a gente traz
Daquelas guarânias que não tem mais
Rasqueado faz lembrar Mato Grosso
Dos bailes gostosos dos tempos de moço

Marcelino Nunes de Oliveira é bacharel em Direito, pós-graduando em Metodologia do Ensino Superior, vereador em Ponta Porã e estudioso da cultura fronteiriça.

1 Chamame:

Anonymous Anônimo diz...

Passei minha infancia em Ponta Porã, e o que mais me marcou foram os bailes da fronteira onde todo mundo sapecava um chamame. Me recordo muito bem das romantica noites serenas em Pedro Juan Caballero.

8/12/05 9:09 PM  

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